As Ruínas do Castelo do Stinche

                                                           - agora em restauro

   (Trecho adaptado do artigo “Guia de Casas, Castelos e Ruínas dos Antigos Cavalcanti”, publicado no Blog da historiadora Rosa Sampaio Torres http://rosasampaiotorres.blogspot.com/).


 


   Castelo recém localizado e fotografado por Marcello Bezerra Cavalcanti em Radda, Toscana - segundo fontes locais e documento fundiário na posse de seu ultimo proprietário.            

                              


                              Atualmente em restauro por novo proprietário.

 

   O Stinche é tido como um antigo castelo lombardo do século IX construído sobre um assentamento romano anterior.

   Desde a Idade Média, os habitantes do Stinche iniciaram a cultivar as vinhas em “lamulae” - "lâminas" - pequenas faixas de terra plana na íngreme encosta oeste da montanha. Por este fato o nome da aldeia local - Lamole.

    Por fontes históricas, sabemos que castelo do Stinche na região Val de Greve foi estratègicamente colocado no ponto mais alto da antiga rota dos lombardos, caminho da muito antiga via romana Flamínia. A origem do nome deste tradicional castelo dos Cavalcanti, Stinche seria a palavra “shin’ (inglesa?) ou “shinbone”, borda superior da tíbia, por extensão toponímica “cume, ponto mais alto da colina” (Wolfang, Marvin – Crime and Justice at the milenium, Kluwer Academic Publishers, 2002, pg. 358).

   Já no sec. XI o castelo constitui herança dos primeiros Cavalcanti documentados na Toscana com este sobrenome, talvez um título - os Cavalgadores.   Por nós observado que a família Cavalcanti aparece de forma súbita, mas já muito pujante por heranças que vinham sendo acumuladas através das linhagens wido (franco-borgonhesa), hildebrandeschi (lombarda), e pelo menos hunfriding e hucpolding – dinastias de origem lombarda e franca estabelecidas na Toscana e aí entre si entrecruzadas - fatos por nós já identificados em vários trabalhos, especialmente “Propriedades dos antigos Cavalcanti na Toscana” publicados no nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/

    O casamento de uma filha de um Hildebrando, Adalaïde ou Adeletta (falecida depois de 1043) com o wido Guido III, conde de Modiano (vivo 1034) - conforme a fonte genealógica Shamà – identifica uma das vertentes originárias dessas heranças familiares dos Cavalcanti.

    A família Cavalcanti surge documentada pela primeira vez com Domenico Cavalcanti neste período (1045) e neste mesmo local (Toscana Florença). Domenico muito possivelmente irmão de um Hildebrando desta geração. (Conclusão do nosso trabalho com todas as fontes “As linhas francas descidas para a Itália com Carlos Magno”, inédito, mas já aberto a pesquisas e “Propriedades dos antigos Cavalcanti na Toscana” próximo no nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/)

 

   Já bem mais tarde, durante o século XIII, lutas políticas entre as famílias “guelfas”, favoráveis ao poder do papa, e “guibelinas”, favoráveis ao poder do Santo Império, tornam-se intensas. E as tentativas do sistema republicano florentino de controlar a elite dos “magnati” só haviam ainda mais acirrado os ânimos dos contendores.

    Em 1300 morre o cavaleiro, político e poeta da família, Guido Cavalcanti, que havia sido confinado pela Republica em prisão insalubre.

   Posteriormente, por conflitos violentíssimos em 1304 os Cavalcanti ”guelfos brancos” de Florença - já com sua zona de moradia urbana e comércio, a Calimala, em fogo - terão de se refugiar nas redondezas da cidade, inclusive neste seu castelo do Stinche. Nesta ocasião irão se verificar ainda mais assaltos e mesmo tentativas de destruição desses castelos - castelos que haviam pertencido a muito antigas famílias feudais originarias em Val de Greve e em Val de Pesa – ainda suas propriedades rurais de Ostina e Lucco, no Val d´Arno superior. Estes episódios de destruição facilitados até mesmo pela incitação popular estimulada pelo partido “dos guelfos negros”- partido ainda de guibelinos disfarçados.

   Em 5 de agosto de 1304, a própria Comuna de Florença envia um contingente militar para tomar em assédio o castelo de Stinche dos Cavalcanti, quartel general dos resistentes “guelfos brancos”.  O castelo-fortaleza apesar da extrema defesa é tomado, e parcialmente destruído.  Maquiavel justifica esta tomada pela força aos Cavalcanti do seu já histórico castelo do Strinche, situado na antiga rota dos lombardos e ponto mais alto da colina, “pela necessidade do povo de Florença diminuir o poder dos Cavalcanti”. A partir da detenção dos resistentes do castelo em uma prisão recém construída em Florença, esta prisão irá tomar também a denominação de Stinche - “onde estavam os de Stinche” (Ver Maquiavel, Nicolau – “Historia de Florença”, pg. 10).

   O Castelo do Stinche será ainda reedificado depois de 1304 e habitado novamente pela família Cavalcanti.

  Entretanto, segundo Domenico Buoninsegni na sua “Historia Florentina”, editada em 1580, em agosto de 1452 o exército do rei de Nápoles, Afonso de Aragão, acampou em Castelina no Ghianti e fez no condado uma serie de saques e destruições, inclusive no castelo-fortaleza do Stinche - em poucos dias o arrasaram novamente.

  

     As ruínas do Stinche foram recentemente localizadas por Marcelo Bezerra Cavalcanti na atual localidade de Radda, província hoje de Siena, em uma vinícola denominada “La Molle”.

     A vinha da marca “Castello di Lamole”, adjacente ao sul do complexo homônimo, re-implantada em 1998 - com área que produz o vinho “Chianti Clássico” de 1,04 hectares, 4320 vinhas de Sangiovese e 587 de Merlot.

 

  Em resumo: O Castelo do Stinche de origem lombarda cedo tornara-se herança da família Cavalcanti e quartel-general do partido dos “guelfos brancos” contra um ataque sob ordens da Republica em 1304, quando sofreu sua primeira destruição; entretanto, foi ainda posteriormente reconstruído e habitado pela família. Mas, no ano de 1452 o exército do rei de Nápoles, Afonso de Aragão, causou grandes prejuízos na região e por fim o destruiu. Dele só restando hoje nobres ruínas, localizadas em uma vinícola produtora de bons vinhos na Toscana.

    Mas tudo indica, felizmente, que o Castelo do Stinche está agora sendo mais uma vez restaurado por novos proprietários.

     O pesquisador Marcelo Bezerra Cavalcanti que nos trouxe esta novidade ainda nos indica o caminho para chegar no Castelo delle Stinche: Località San Leolino, estrada de terra SP-114, Comune di Radda in Chianti (SI)

GPS 43,5222169, 11,3537261

    

   Comentários diretos ou indiretos sobre o Castelo do Strinche constam também em nossos trabalhos “Propriedades antigas dos Cavalcanti”, “As mais antigas origens de Cavalcanti, Monaldeschi e Malavolti nas proximidades de Colônia, reino franco – século VIII”, e especialmente o mais recente “Os mais antigos Cavalcanti”, com todas as fontes consultadas – artigos publicados em nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/

 

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     Herança dos Cavalcanti vinda pelos Hildebrandeschi - dinastia antiga de origem lombarda.

    (trecho do artigo “Propriedades Antigas dos Cavalcanti”, publicado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/)

       No começo do século XI, momento mesmo do aparecimento dos Cavalcanti na Toscana, identificamos um lldebrando (Hyldeprandus) como um dos quatro filhos ainda criança e não nominados de Bernardo, conde de Pávia e sua esposa Rosalind.

    A identificação deste Hildebrando fica esclarecida por documentos de doações à igreja de Pávia em 1014, citados pela fonte NorthenItaly (northernitaly - Archive. is ou http://archive.is/VpMLj)

    Por esta doação feita em 1014 à igreja de Pávia infere-se que outro dos filhos do casal, Umberto, já bem documentado, recompensava os descendentes de Hildebrando, marquês Otbertus e seus filhos e seu neto, Albert, como proprietários anteriores. Sobre Ildebrando refere à fonte documental Nobility I: "Heinricus... Romanorum imperator augustus" bens doados "Que Gebehardus vem em habuit beneficium, em comitatu Piligrimi et in pago Matihgowe” à igreja de Pávia por patente datada de 1014, nomeando "Ubertum comitem Filium Hildeprandi, Otbertum marchionem et filios eius et Albertum nepotem illius" como proprietários anteriores [289]”.

    O casamento de uma filha do Hildebrando desta geração, Adalaïde ou Adeletta dos Hildebrandeschi (falecida depois de 1043) com Guido III, conde de Modiano (v. 1034) - conforme indica a fonte Shamà – acaba por identificar uma das vertentes originárias das heranças familiares dos Cavalcanti.

    Pois a família Cavalcanti surge documentada por Domenico Cavalcanti neste período (1045) e neste mesmo local (Toscana, Florença). Domenico muito possivelmente irmão do Hildebrando desta geração.   Domenico Cavalcanti (o Cavalgante, cavalgador - italiano ant.) documentado com este sobrenome no ano 1045 (documento já referido pelo historiador Gamurrini - Instrumento Rogato da Fiorenzo nel 1045, conservado no Archivio di Monte Oliveto di Fiorenza, na Sacchetta Turchina, assinalada E. - documento notário “Fiorenzo de 1045”, registrado na abadia de Monte Oliveto em Florença) – referido no mesmo documento seu filho Gio-berto (ou Gianmberto) Cavalcanti <1030>. Assim temos Domenico como o  capostipide dos Cavalcanti.

        Esta é a conclusão do nosso longo e muito detalhado trabalho, com todas as fontes, “As linhas francas descidas para a Itália com Carlos Magno”, inédito, mas já aberto a pesquisas.

    Heranças culturais e bens materiais eram já transmitidos neste século na Toscana por antigas linhagens - como a linhagem wido (franco-borgonhesa do condado de Hesbaye), os hildebrandeschi (origem lombarda), udaricher (antigos agilofings casados com alamanni) hunfriding (descendentes dos widos durante a descida pelos Alpes), hucpolding (pelo conde de palácio Hucpold de Hainacq, já casado na Toscana) e ainda muito antigos luitfriding da Alsácia - dinastias que haviam participado da descida e que haviam se estabelecido e amalgamado na Toscana por, pelo menos, dois séculos.

   Acreditamos que a herança que chega aos Cavalcanti por estes da dinastia hildebrandeschi seria bem antiga, pois os notórios Hildebrando (“Fogo celebre”) foram dinastia de guerreiros lombardos atuantes na antiga história italiana, e que por fim apoiaram Carlos Magno, até mesmo o acompanharam na descida franca do sec. VIII.   

    Sugerimos que o castelo do Stinche em Val de Greve, hoje ruínas em vias de restauração, pode ter chegado aos Cavalcanti por esta vertente da dinastia lombarda - lembrando ainda que a esposa do conde wido, Warin II, conde de Hesbaye e Aldorf, Adelinde de Spoleto era membro desta família dos Hildebrando – Hildebrando guerreiro submetido ao papa em 774 - provavelmente mesmo sua filha. O casal Warin e Adelinde, já bem estudado genealogicamente, unido por volta de 744 em Narbonne, atual França.

  Lembrando que o célebre nome familiar Hildebrando (adiante denominados também Hildebrandeschi, Aldebrando, Aldebrandino, Aldobrandeschi) aparece com freqüência nas tabelas genealógicas dos Cavalcanti depois do ano 1000 (tabela de Silvio Umberto Cavalcanti) confirmando esta ascendência familiar.  

  Na quinta geração de Cavalcanti - Hildobrandino (Aldobrandino) di Cavalcante Cavalcanti, <1130> ou <1140>, filho de Ianni letti, pelas datas é citado em documento garantidor da pacificação entre as cidades de Montalcino e Senofonte no ano 1201 com seu provável irmão Adimari di Ianni Letti (fonte Faini).  Seu prenome Hildobrandino (Aldobrandino), certamente originário da linha do filho Hildebrando do Bernardo, conde de Pávia referido acima.

    Assim sendo, é provável que Hildebrandino di Cavalcante Cavalcanti nesta geração tenha sido o herdeiro do Castelo do Stinche que chega aos Cavalcanti, castelo muito antigo, estrategicamente localizado no ponto mais nesta época alto da rota dos antigos lombardos em Val de Greve.  A acima citada Adeletta, falecida depois de 1043, tida como filha de Ildebrando dos Ildebrandeschi (lista Shamà), foi casada com o conde wido Guido III, conde do Castelo de Modiana - não é indicado que tenham tido filhos herdeiros.        

     O Castelo do Stinche é tido em fontes locais como um castelo lombardo (século IX), construído sobre um assentamento romano anterior.

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      Trecho referente ao castelo do Stinche em nosso trabalho “Os mais antigos Cavalcanti”, editado no blog Rosa Sampaio Torres, com todas as fontes citadas na Introdução.

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5ª geração - Hildobrandino (ou Aldobrandino) di Cavalcante Cavalcanti, <1130> ou <1140>, colocado nesta quinta geração, pois o temos pelas datas filho do acima Ianni letti. Hildobrandino di Cavalcante Cavalcanti é citado em documento garantidor da pacificação entre as cidades de Montalcino e Senofonte no ano 1201 com seu provável irmão Adimari di Ianni Letti (fonte Faini).  Seu prenome Hildobrandino (Aldobrandino), certamente originário da linha do filho Hildebrando do Bernardo referido acima em nota.

 

    [Nota 6 - É provável que nesta geração Hildebrandino di Cavalcante Cavalcanti tenha sido herdeiro do Castelo do Stinche que na época chegava aos Cavalcanti - castelo muito antigo, estrategicamente localizado no ponto mais alto da rota dos antigos lombardos em Val de Greve. Devemos lembrar que a citada Adeletta, falecida depois de 1043, era filha de Ildebrando dos Ildebrandeschi (lista Shamà) - um dos filhos do Bernardo [de Pavia] - teria sido casada com um conde wido, Guido III, conde do Castelo de Modiana.     

  Os Hildebrando eram descendentes de antiga dinastia de origem lombarda – no passado o lombardo Hyldebrando se submeterá ao papa em 774, ele já na ocasião unido à família franco–borgonhesa dos condes widos de Hesbaye por sua filha Adelinde de Spoleto, casada com Warin II de Herbaye e Aldorf em c.744 (por varias fonte genealógicas). 

    No trabalho “Observações sobre a antiga ponte de Pontorme”, de Walter Maiuri (https://www.dellastoriadempoli.it/osservazioni-sullantico-ponte-di-pontorme-walter-maiuri/) observamos também que a Igreja medieval de santa Andrea na comunidade de Empoli traz ainda hoje em sua fachada, sob quatro arcos, placas de mármore certamente oriundas de antiga ponte romana sobre o rio Orme. E, no verbete Empoli em E. Repetti Dizionario geografico físico storico della Toscana... Pg. 57 encontramos referências à presença de um Ildebrando e sua corte localizado nesta cidade de Empoli próximo do ano 1000, ocasião coincidente com a primeira reforma desta igreja de Santa Andrea - e acreditamos pelas datas que nesta geração fosse ele já o Hildebrando, filho do Bernardo, conde de Pavia].

         Especialmente comprovamos os prenomes Aldobrandino e, sobretudo, Guido que contínuam na família Cavalcanti a partir de 1045 - o prenome Guidi (Warin, Wido, Grerin, Garnier) muito antigo, proveniente dos franco-borgonheses condes de Hesbaye - origem da linhagem wido do capostipide São Warinus do sec. VI.

           O nome Guido tornado celebre como poeta da família, ainda aprece no ramo “Cavalleschi” dos Cavalcanti na Italia no sec.XVI pelo irmão Guido do nosso patriarca Filippo, e até mesmo usado até hoje no Brasil e na Itália.    Ver mais RST, trabalhos recentes.     

 

Ainda 5ª geração - Adimaris Iannis Leti ou Adimari di Ianni Leti ou Adimari di Gianniletto <1130> ou <1140>, documentado Consul de Florença antes de 1176 [citado por Gamurrine com documentos, repetido por SUC], falecido antes de 1228. Citado o seu nome completo no arquivo de Siena, “Kaleffo Vechio”, onde assina “Adimaris Iannis Leti” no ano de 1201 em um documento de juramento com “Hildebrandinus (Aldobrandinus) Cavalcantis”, provavelmente o seu irmão, pois haviam estado contra os da cidade de Sonofonte.

    Adimari seria herdeiro do castelo de MonteCalvi na região (Delizie degli eruditi toscani - Fr. Ildefonso di S.Luigi). Seu avô [Leto] Cavalcante já aparecera como herdeiro e de posse do castelo de MonteCalvi (“Delizie degli eruditi toscano”, Fr. Ildefonso de S. Luigi, citado por SUC), castelo que terá suas muralhas parcialmente destruídas mais adiante pelos guibelinos sienenses, após a batalha de Montaperti em 1260. Adimari Iannis Leti casado com Isabella degli Amidei (SUC). 

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Rosa Sampaio Torres - historiadora (PUC-Rio), também graduada em Estudos Sociais e pós-graduada em Ciências Políticas. Autora do livro “O Tenentismo, 1922-1927”, pela ed. Minerva em 1992. Reconhecida como ensaísta, autora de inúmeros artigos históricos sobre a família Cavalcanti, da qual descende, e em especial sobre o poeta Guido Cavalcanti do século XIII.

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